Peça de teatro composta pelo gato Drake Augustus.
Palco vazio. Penumbra. Um fio de luz marca a cena no canto direito.
Entra uma garota com um cesto cheio de rosas.
VENDEDORA DE FLORES: Oh, dia! Oh, vida! Será que é tão difícil ganhar a vida com ofício tão delicado? Por que me sobra este fardo, ter que vender flores tão frágeis durante inverno tão rigoroso?
Entra um homem, encapuzado, vestindo túnica cinza.
LADRÃO: Droga! Com mil demônios, onde foi que enterrei...
VENDEDORA DE FLORES: Com sua licença, senhor... Gostaria de comprar flores?
LADRÃO: Flores? Num inverno como este? Pra que diabos eu compraria flores... Num inverno como esse!?
VENDEDORA DE FLORES: Não sei, quem sabe para alegrar a casa... Ou dá-las para alguém...
LADRÃO: Bem, eu até poderia, mas no momento estou ocupado numa missão importante.
V.D.F. (abreviemos): De que se trata?
LADRÃO: De que importa?
V.D.F: Não seja rude. Curiosidade.
LADRÃO: Lamento informá-la de que se trata de uma missão secreta e de alto risco.
V.D.F.: Hmm... Eu bem preferia uma vida secreta e de alto risco a vender flores.
LADRÃO: Não diga bobagens. Você nem sabe do que se trata.
V.D.F.: Bem, eu poderia saber do que se trata caso você tivesse a consideração de me explicar. Na verdade, sei que sequer nos conhecemos, mas devo informá-lo que tenha uma prima que tem uma amiga que mora há umas dez quadras daqui, que uma vez contou para uma outra amiga dessa minha prima, na verdade não exatamente esta minha prima, mas uma outra que também mora há dez quadras daqui, mas para o lado norte, e não para o lado sul... Ou seria oeste? Sei que enquanto vendia estas flores...
LADRÃO: Inferno! Inferno! Você não para de falar! Estou ocupado!
V.D.F.: ... mas só para completar, enquanto esta minha amiga, que na verdade é amiga desta minha prima...
LADRÃO: Tudo bem! Já entendi. Quanto é pra me deixar em paz? Essa cesta toda?
V.D.F: Bom, a cesta toda custam-lhe apenas duas peças de prata, meu senhor.
LADRÃO: Tome esse saco de moedas. Aqui com certeza deve haver bem mais que isso. Agora vá e deixe que eu me concentre.
V.D.F.: Oh, meu bom senhor! Muito obrigada! Agora já posso voltar pra casa e certamente hoje não preciso encarar a surra que meu pai me dá todas as noites.
LADRÃO: Seu pai lhe dá uma surra todas as noites por não conseguir vender as flores?
V.D.F.: Na verdade, não. É que costumo chegar um pouco tarde sempre, sabe? Desde que não consigo controlar meu alcoolismo, fica sempre difícil voltar pra casa depois de um dia ruim de trabalho.
LADRÃO: Você é alcoólatra?
V.D.F.: Sim, na verdade, não é bem alcoolismo, é mais um vício simples por entorpecentes que adquiri quando precisei encarar o fato de minha mãe fugir para Havana com um maquinista. Se bem que não posso exatamente chamar de vício, faz uns 10 anos que uso esses entorpecentes todos os dias e nunca me viciei.
LADRÃO: Querida, vá se tratar. Você precisa se tratar. E eu preciso ir embora. Até nunca mais
(sai).
V.D.F.: Mas vender flores faz parte do tratamento...
Fim.
Sem mais.